sexta-feira, 2 de abril de 2010

Palavras do Osho

O Silêncio, por Henri Durville

     O Silêncio, por Henri Durville

    "Hermes, em seu sermão secreto a seu filho Tat, no momento de lhe conferir a última Iniciação, lhe diz: "A Sabedoria ideal está no Silêncio."
    Nenhuma palavra é mais verdadeira. A Verdadeira Sabedoria está na comunhão do pensamento humano com os eflúvios que lhe chegam dos poderes superiores, e esses eflúvios, as palavras divinas perceptíveis ao entendimento único, ou ao sentimento mais elevado, não podem ser percebidos senão no recolhimento.
    É o que todas as iniciações são unânimes em proclamar.
    É por isso que vemos o Buda meditando em atitude de recolhimento, que a misteriosa Ísis se apresenta com um dedo sobre os lábios fechados, convidando o sábio ao silêncio que atrai as revelações.
    É somente no silêncio que o ser se analisa a fundo.
    Maeterlinck o exprime com poesia: "As abelhas não trabalham senão na obscuridade; o pensamento não trabalha senão no silêncio, e a virtude, no segredo."
    É somente no silêncio que o ser humano tem verdadeiramente consciência das suas forças latentes e das que o envolvem no ambiente. É na paz do pensamento, quando nada de exterior vem perturbar a sua meditação, que sente nascer e se expandir em novas faculdades. Seu coração deve sentir-se em uma calma absoluta, não somente no silêncio exterior, mas no arrefecimento das paixões; deve sentir-se livre do seu tumulto devastador, para perceber as harmonias que descem do Infinito e o penetram, deslizando-se como uma melodia suave.
    O espírito, desprendido das agitações, só pode atingir as regiões serenas quando tiver consciência de sua missão, de seu lugar no Universo.
    Ninguém pode chegar aos cumes iniciáticos, se não aprecia, não procura como uma satisfação pessoal, a calma absoluta: a calma interior de todo o seu ser, o domínio perfeito das paixões e dos impulsos e também a calma exterior que não se poderia encontrar senão na paz do lar, ou melhor, na serenidade deliciosa da Natureza."
    "Antes de tudo, é preciso estabelecer a calma em si mesmo.
    Todos os desejos, paixões, impulsos, arrebatamentos devem ser submetidos ao domínio perfeito da razão. É no repouso do pensamento - que a calma dos sentidos deve preceder - que as grandes vozes se fazem ouvir.
    Stanislau de Guaita o diz àquele que prcura os segredos iniciáticos: "Se tu aspiras a vir a ser um Adepto, impõe ao Eu o mais rigoroso silêncio."
    Uma calma soberana deve reinar na nossa pessoa física, e devemos obter também a calma absoluta do nosso campo mental e do nosso domínio emocional. Nenhuma vibração violenta e inesperada deve perturbar a nossa comunhão com a Divindade; nada da nossa pessoa deve escapar a essa calma necessária; é a última etapa no caminho iniciático.
    É no silêncio, na paz do coração, no repouso do espírito que o ser se revela a si mesmo. A ação nos faz conhecer as possibilidades e os limites de nossas forças, mas não as revela para nós. A noção de nossa força real nos vem principalmente nos momentos de repouso. É no período de calma momentânea, de silêncio meditativo em que recordamos a ação feita, em que preparamos a ação a fazer, que vivemos mais poderosamente. Maeterlinck disse com muita exatidão: "O silêncio é o elemento no qual se formam as grandes coisas para que, em seguida, possam emergir, perfeitas e majestosas, à luz da vida que elas vão dominar."(Tesouro dos humildes)
    "O silêncio é principalmente importante para o despertar de nossos poderes psíquicos. Como poderíamos praticar a concentração do pensamento, cristalizar o nosso desejo na dissipação interior, do tumulto exterior? É o que escreveu muito judiciosamente Rudolph Steiner: "A força que dá origem à calma interior é uma potência mágica que nos transmite certos poderes ocultos." Essa transmissão dos poderes ocultos não pode dar-se senão no mais profundo recolhimento. Como, por exemplo, acolheríamos as imagens que nos são transmitidas, as fugazes intuições, senão na paz interior e no silêncio exterior?
    O ruído é para todas as manifestações psíquicas um poderoso dissolvente.
    Nossas faculdades mais altas, inspiração, intuição, não podem aparecer senão no silêncio. Ser-nos-ia impossível escrever uma página qualquer por mais simples, escolher palavras necessárias à expressão de nossos pensamentos, senão na calma do gabinete de trabalho.
    Com mais forte razão não poderemos, fora da calma exterior, atingir ao fenômeno psíquico.
    É no silêncio que desenvolvemos as nossas fauldades mais elevadas, que lhes podemos fazer adquirir o seu mais alto grau de aperfeiçoamento.
    No silêncio, percebemos nuances delicadas de tom, de côr, de pensamento, que fogem no alvoroço, na preocupação; no silêncio, o espírito se expande e se sutiliza.
    Parece ao adepto, quando se coloca num quadro favorável, em paz absoluta, que, segundo o seu desejo, o seu espírito, isento das contingências habituais, dilata-se, eleva-se, haure, enfim, Forças vivas que a mão distraída da multidão não é capaz de atingir.
    Uma onda de luz, descida do alto, transborda o seu coração. As últimas sombras se dissipam diante da claridade penetrante e deliciosa. Desse impulso prometedor e pacífico para os horizontes infinitos, o espírito livre desce com noções desconhecidas que o enriquecem e o fortificam.
    Em um instante, descobriu coisas nas quais nem pensava."
    "São idéias novas. Desce ainda sob esse encanto mágico, fortificado pelo fato de se haver abeberado na fonte de todo conhecimento e de toda alegria. Seu espírito encontrou novas certezas que mantêm a sua confiança; seu coração saboreou as alegrias profundas nas quais se desalteram e se fortificam o sentimento e a fé. A força vital dos universos, mais alta que a atmosfera pesada, reconfortou-o e o ampara; ele pode distribuí-la, por sua vez.
    Nos momentos de solidão, de meditação, de recolhimento, o ser pode abandonar voluntariamente o seu corpo em um repouso pacífico. Não é a doce preguiça que embala o espírito nesse instante; ao contrário, todo o ser se locupleta de energias novas. Ele sabe que pode agir, sente que as suas possibilidades se multiplicaram e se desdobraram, mas, antes de dar o sinal de ação, haure poderes novos do ambiente.
    O silêncio interior, que nos é tão indispensável, é mais fácil adquirir quando o quadro exterior a isso se presta.
    As dores do místico acalmam-se na Igreja à meia claridade e toda perfumada de incenso. Em uma atmosfera sagrada, projeta seu coração em arrebatamentos poderosos.
    Do mesmo modo, o adepto acha o conforto na calma da Natureza, no silêncio delicioso que cai das folhagens.
    Através de todos esses murmúrios confusos, goza das alegrias mais puras; abre o seu espírito e o seu coração, deliciosamente, às harmonias do Infinito.
    Essa procura do silêncio é necessária ao adepto. Mas eria um erro acreditar que essas pessoas de calma e de repouso têm por fim afastar dele o impulso generoso que o conduziria para a ação. O esforço e o repouso são dois tempos igualmente necessários da manifestação de nossas energias.
    Ambos são indispensáveis.
    "Todos os nossos orgãos são dotados desse ritmo; eles se contraem e se distendem; trabalham e repousam. Por outro lado, o espírito e o coração têm a mesma necessidade de paz e de calma. Um trabalho constante esgotaria prontamente o trabalhador mais corajoso; os casos de esgotamento tão cruéis e tão deprimentes são disso a prova evidente.
    Nosso espírito é capaz de esforços, de concentração, de uma aplicação sustentada, mas esse esforço não pode ser continuado indefinidamente.
    Depois de um tempo variável, segundo a resistência de cada um, tem necessidade de repouso, de distração. Esta distração pode ser mudança de trabalho, mas é a mesma coisa, um entretenimento. Seria preciso, para o nosso benefício, que pudéssemos derivar o nosso espírito, tenso e fatigado, para idéias mais alegres que nos predisponham a um sono feliz.
    A nossa parte emocional tem, também ela, necessidade de se modelar nesse rirmo binário.
    Não nos é possível ficar muito tempo sob uma mesma emoção, sob uma atração violenta com igual fervor. Depois de um período de perturbação, um repouso se produz necessariamente.
    Esse repouso do coração e do espírito, podemos encontrá-lo no seio da Natureza. É aí que encontraremos a paz e a força nos sãos e vivificante eflúvios que se irradiam, para nós, da terra e do ar, das vagas e dos bosques.
    Sob a sua deliciosa influência, todas as nossas preocupações se dissipam. Sentimo-nos próximo das forças naturais e delas recebemos as energias reparadoras que nos prodigalizam, para o trabalho do futuro, uma sensibilidade mais viva e mais aguda, um poder de pensamento ao qual não podíamos pretender. Quando voltamos, vemos a vida mais bela e mais fácil, experimentamos a alegria de viver; o otimismo que nasce das forças recuperadas nos envolve em todos os sentidos.
    O trabalho e o repouso não são, aliás, necessidades penosas; os dois têm seu encanto.
    O trabalho nos dá a alegria robusta de criar, de realizar, de imitar a laboriosa Natureza.
    O repouso que sucede ao esforço nos dá, com a consciência feliz do dever cumprido, uma agradável languidez, uma percepção delicada da vida que nos rodeia, uma alegria mais intensa para gozá-la quando sentimos havê-lo merecido.
    É preciso saber ser ativo. O repouso será mais apreciado. A inação, que parece tão agradável ao preguiçoso, é uma forma da morte; conduz ao cansaço, tão prontamente quanto o trabalho excessivo; dá a saciedade dos prazeres e o desgosto da vida; acabrunha-nos de sombrios pensamentos.
    É preciso aprendermos a repousar, a nos deixarmos ganhar pelo silêncio e pela paz. Um repouso material, invadido de pensamentos inquietos, é uma forma de trabalho.
    É preciso deixar o silêncio envolver docemente a nossa pessoa: corpo, espírito, coração. É assim que encontraremos horas deliciosas que nos esperam, porque esse repouso não é inútil, se sabemos, nos momentos propícios, tornar-nos voluntariamente, profundamente sileciosos.
    A Arte do Silêncio deve acompanhar cada passo da senda de um iniciado, especialmente uma mais profunda compreensão do próprio Silêncio.