sábado, 16 de maio de 2009

SOBRE O AUTOCONHECIMENTO, PENSAMENTO E ATENÇÃO PLENA.

Krishnamurti
Sem o autoconhecimento, o que quer que eu pense, o que quer que eu faça, não tem nenhum fundamento. Ora, o que é o autoconhecimento? Como você se conhece? O que significa conhecer a si mesmo? Você se conhece a partir da observação da experiência; da observação de um pensamento e, a partir desse pensamento, da observação de outro pensamento que surge, relutamos em nos desprender do primeiro pensamento de modo que há um conflito entre o primeiro pensamento e o segundo pensamento? Ou o autoconhecimento significa abandonar o primeiro pensamento e seguir o segundo e, depois, o terceiro pensamento que surge, abandonando o segundo e seguindo o terceiro; deixando de lado o terceiro e seguindo o quarto, de modo a ter uma atenção e uma percepção constantes do movimento do pensamento?... Autoconhecimento não significa conhecer-se, mas conhecer a atividade do pensamento. Porque o eu é pensamento, a idéia do “eu”. Portanto, observe cada movimento do pensamento, não deixando nunca que um pensamento passe sem se certificar do que ele é. Tente. Faça isso e você verá o que acontece. Isso revigora o cérebro...
Vejo que a vida é uma vida superficial. Isso é óbvio. Portanto, eu digo a mim mesmo: o pensamento pode chegar a essa profundidade, já que ele é o único instrumento que tenho?... Eu levo uma vida muito superficial, e quero descobrir por mim mesmo se há alguma profundidade que não seja mensurável, e constato que o pensamento não pode alcança-la, porque o pensamento é um tipo de medida, o pensamento é o tempo, o pensamento é a resposta do passado; portanto, o pensamento provavelmente não pode entende-la. Então, o que isso causará? Se o pensamento não pode entende-la e este é o único instrumento que o homem tem, então, o que ele deve fazer? O pensamento, na sua atividade, na sua função, criou este mundo superficial no qual vivo, do qual faço parte. Isso é óbvio. Ora, é possível para a mente, sem o uso do pensamento, compreender algo que seja incompreensível?... Minha mente diz que a profundidade precisa ser descoberta para que a mente tenha essa qualidade – tenho de estar ciente dessa profundidade estranha e incompreensível de algo que não tem nome... O pensamento é tempo, o pensamento é medida, o pensamento é resposta da memória, o pensamento é conhecimento, é experiência, passado; portanto, o passado é tempo. Esse pensamento tem de atuar sempre superficialmente. Isso é simples.
Ao levar uma vida superficial, como os seres humanos levam, eu digo a mim mesmo que eu gostaria de atingir essa profundidade onde há grande amplitude e beleza, algo imenso. Ora, o que devo fazer? Qual é a outra operação ou o outro movimento que deve acontecer quando o pensamento não está funcionando? A mente pode continuar sem limites?... Durante toda a sua vida, você conheceu o que são limites. Agora, pergunto a vocês: A mente pode existir sem limites?...
Quero chegar a algo muito mais profundo. Que ação é auto-energizante? A que congrega, ao mesmo tempo, infinito movimento e energia infinita? Estou sendo claro? Sinto que todas as nossas ações são fragmentadas. Todas as nossas ações são destrutivas: suscitam a divisão e gera o conflito. Nossas ações situam-se sempre no âmbito do conhecido e, portanto, estão vinculadas e são prisioneiras do tempo. Quero agora descobrir se há algum outro tipo de ação. Estamos cientes de que a ação, de um modo geral, se encontra sempre no âmbito do conhecido. Estamos também cientes da existência de uma ação tecnológica, de uma ação racional e de uma ação comportamental. Haverá outra? Dentro do campo da consciência, sabemos muito bem o que é ação. È tudo o que existe dentro do âmbito do conhecido. Acredito que esse tipo de ação conduza necessariamente a diversas formas de desunião, de mágoa, de frustração... Pergunto a mim mesmo: existe outro tipo de ação que não pertença a esse âmbito da consciência que acarreta derrota, frustração, angústia, infelicidade, confusão? Um tipo de ação intemporal?... Sempre agimos no âmbito do conhecido. Quero descobrir se existe uma ação livre de atritos. Sei que toda ação gera algum atrito. Quero descobrir um tipo de ação não-contraditória, não-conflitante... Quero chegar a um tipo de ação que não seja repetitiva, conflitante, imitadora, conformista e, por conseguinte, corrompida.
Quero viver uma vida sem conflitos, e vida aqui significa ação. Nestes termos, compreendo que a vida em si sempre causa conflitos. Quero encontra um modo de vida que se resuma em ação, em que não haja conflito. Conflito significa imitação, conformismo, enquadramento num padrão que visa evitar conflitos e que redunda num modo de vida mecânico. Podemos encontrar um modo de vida no qual não haja o menor resquício de imitação, de conformismo, de repressão? Antes de tudo, não se trata de “encontrar”. É melhor abolir esta palavra. Trata-se de viver agora, o dia de hoje, no qual não há conflito.
Eu gostaria agora de partir de outro prisma. As células cerebrais tem sofrido perda de energia devido a conflito, imitação ou coisa que valha, a que estão acostumadas. Agora, porém, puseram fim a tudo isso. Livraram-se dessas influências e o cérebro deixou de armazenar esses resíduos. Pode até funcionar tecnologicamente, mas, tendo compreendido a vida como ação sem conflito, encontra-se em estado de atenção. Quando existe atenção plena, profunda, não-imposta, não-dirigida, não-desejada, então toda a estrutura está viva. Não no sentido comum, mas numa acepção diferente. Eu acho que ocorre uma transformação física. Acredito que seja um prenuncio de morte, o que já é morte. Existe, pois, uma ação que não se repete e, sendo assim, estar livre do conhecido equivale a perscrutar o desconhecido... Portanto, está acontecendo uma transformação definitiva. Isso acontece logicamente, porque quando a mente funciona no âmbito do conhecido age de acordo com esquemas. O mesmo se dá com as células do cérebro. Quando não existem esquemas, o cérebro passa a atuar na sua totalidade, livre de esquemas, em plena liberdade, que é sinônimo de atenção.
Conflito é desordem... Como devo lidar naturalmente com o conflito?...A mente é capaz de se libertar de todo tipo de conflito? Nós a reduzimos ao conflito. Agora, atenham-se a isso e vejam se a mente pode ficar livre dele. Como pode a mente, sabendo o que é o conflito e o que ele faz, acabar com ele? Esta é sem dúvida, uma pergunta legítima... Conflito é contradição, comparação, imitação, conformismo, supressão. Coloque tudo isso numa só palavra, aceite o significado da palavra como nós a definimos, e pergunte se a mente pode se libertar do conflito... Há um fim definitivo do conflito? Como pode a mente acabar naturalmente com o conflito visto que qualquer outro sistema pressupõe um método compulsivo, direcionado, um método de controle, e tudo isto está fora de cogitação? Como a mente pode se livrar do conflito? Pergunto: Onde você fica no fim de tudo isso? Afirmo que a mente pode estar completa e totalmente sem conflito... Quando há uma fragmentação da mente, essa mesma fragmentação é o conflito.

Jiddu Krishnamurti, 1895-1986

Jiddu Krishnamurti nasceu no dia 12 de maio de 1895 em uma pequena cidade chamada Madanapalle, na India. Desde criança, Krishnamurti foi educado pela Sociedade Teosófica para se tornar um líder espiritual mundial. Todavia, quando adulto, sua vida tomou um curso diferente. Em 1922, Krishnamurti se mudou definitivamente para a California, nos Estados Unidos, onde ele passou a conversar com pessoas do mundo todo que o visitavam ali, atraídas por suas idéias.


Em 1929 ele se separou definitivamente da organização que o considerava como seu líder predestinado, a Ordem da Estrela, e passou a ser conhecido como um dos mestres espirituais mais iconoclásticos e influentes do século XX. Krisnamurti repudiou não apenas suas conecções com todas as religiões e ideologias, mas também se negou a aceitar que ele mesmo tivesse qualquer autoridade espiritual. Um viajante incansável, ele rejeitou também laços que o unissem permanentemente a qualquer país ou nação, nacionalidade ou cultura específica. E apesar de sempre fazer palestras para enormes multidões que o seguiam pelo mundo, Krishnamurti nunca aceitou nenhum pagamento por tais palestras ou pelos livros que escreveu durante sua vida.

Jiddu Krishnamurti morreu no dia 17 de fevereiro de 1986. Seus ensinamentos podem ser encontrados em livros, filmes, cursos universitários, seminários e nas escolas que ele fundou. Até 1990, seus trabalhos já tinham sido traduzidos para 47 idiomas, incluindo o idioma Swahili e, através desses trabalhos sua influência atingiu um nível mundial. Suas idéias, as quais revolviam em torno da centralidade de uma consciência individual livre dos filtros pré-programados das religiões e culturas mundiais, atraíram uma miríada de seguidores, os quais incluiram George Bernard Shaw, Greta Garbo, Bertrand Russell, Aldous Huxley, Joseph Campbell, Albert Einstein, Alan Watts, Jackson Pollock, Anne Morrow Lindbergh, Christopher Isherwood e Charlie Chaplin.

Jiddu Krishnamurti's objetivo era libertar a humanidade. Ele afirmava que o indivíduo é libertado quando ele consegue observar seu próprio condicionamento psicológico, e que esta constatação permitirá que ele consiga oferecer amor a seu próximo. "Se você quiser passar estes ensinamentos adiante, para outras pessoas", dizia Krishnamurti, "viva-os e pratique-os em sua própria vida diariamente e, através de sua vida e de seu exemplo, você estará repassando-os aos seus semelhantes".

Frases de J. Krishnamurti


Não há nada que conduza à verdade. Temos que navegar por mares sem roteiros para encontra-la.


A inteligência não está buscando segurança. Ela não tem segurança. A idéia de segurança não existe na inteligência. Ela por si mesma é segura, e não "busca segurança".

A inteligência tem harmonia em si mesma.

A inteligência usa o pensamento.

A mente ou organismo, o pensamento, o cérebro com todas as suas memórias, experiências e tudo isso, que é tudo do tempo. E a mente diz "Posso chegar a isso?". Ela não pode. Então eu digo a mim mesmo "Como ela não pode, ficarei quieto".

Então a inteligência é necessária. Sem ela, o pensamento não tem significado, de todo.

Então o pensamento realmente criou um mundo de ilusão, miasma, confusão, e pôs a inteligência de lado.

Então o pensamento é mensurável; a inteligência não. E como acontece de essa inteligência vir a existir? Se o pensamento não possui relação com a inteligência, então, é a cessação do pensamento o despertar da inteligência? Ou o que ocorre é que a inteligência, sendo independente do pensamento, e não sendo do tempo, existiu sempre?

Então o pensamento é um ponteiro. O conteúdo é a inteligência.

Então o que é a fonte? Ela pode sequer ser nomeada? Por exemplo, o sentimento religioso dos judeus é que isso é inominável: você não nomeia, não pode falar a respeito, não pode tocar. Pode-se apenas olhar. E os hindus e outros dizem a mesma coisa de um modo diferente. Os cristãos iludiram a si mesmos pela palavra Jesus, essa imagem, eles nunca foram à fonte disso.

Então, como ser humano, eu ficaria preocupado apenas com essa questão central. Eu sei o quão confusa, contraditória, desarmoniosa a vida está. É possível modificar isso de modo que a inteligência possa funcionar em minha vida, de modo que eu possa viver sem desarmonia, de modo que o ponteiro, a direção seja guiada pela inteligência? Esse talvez seja o porquê de as pessoas religiosas, em vez de utilizarem a palavra inteligência, terem utilizado a palavra Deus.

Essa questão surgiu e eles dizem "Tudo bem, então eu devo controlar o pensamento, subjugar o pensamento e devo tornar minha mente quieta de modo que ela se torne inteira, então eu poderei ver as partes, todos os fragmentos, então eu tocarei a fonte.". Mas isso ainda é a operação do pensamento.

Esse é o ponto. Pensamento, matéria e inteligência, têm eles uma fonte comum? (longa pausa) Acho que têm.

Eu acho que isso é o que realmente ocorre. Quando você estava falando comigo - eu estive percebendo - eu não estava escutando muito suas palavras. Eu estava escutando você. Eu estava aberto a você, não a suas palavras, o que você explicou e etc. Eu disse a mim mesmo, tudo bem, abandone tudo isso, eu estou ouvindo você, não as palavras que você usa, mas o significado, a qualidade interior do seu sentimento que você queria me comunicar.

Eu aprenderei como estar quieto; aprenderei como meditar com o objetivo de ficar quieto. Eu vejo a importância de se ter uma mente que seja livre do tempo, livre do mecanismo do pensamento, eu a controlarei, a subjugarei, expulsarei o pensamento. Mas isto ainda é operação do pensamento. Isso está muito claro. Então o que ela deve fazer? Porque um ser humano vive nessa desarmonia, ele deve questionar isso. E isso é o que estamos fazendo. Como começamos a questionar isso, ou no questionar, chegamos a essa fonte. É ela uma percepção, um insight, e esse insight não tem nada, coisa alguma a ver com o pensamento? É o insight o resultado do pensamento? A conclusão de um insight é pensamento, mas o insight propriamente não é pensamento. Assim, eu obtive uma chave para isso. Então o que é insight? Posso convidá-lo, cultivá-lo?

Isso é afeição, isso é amor. Quando você fala à minha consciência desperta, ela é dura, esperta, sutil, aguda. E você a penetra, penetra-a com seu ver, com sua afeição, com todo o sentimento que tem. Isso opera, nada mais.

Ler nas entrelinhas.

Liberdade para ver. A liberdade não existe quando há fragmentos.

Mas veja, o pensamento tem dominado o mundo. Você entende? - dominado.

Nunca perceberam que foram pegos no pensamento.

Não pode dividir a si mesma como "minha inteligência" e "sua inteligência". Ela é inteligência, não é divisível. Agora ela brotou de uma fonte de energia que dividiu a si mesma.

O cérebro barulhento não é inteligente, é claro!

O cérebro é apenas um instrumento.

O pensamento e seu campo de segurança, seu desejo por segurança, criou a morte como algo separado dele mesmo.

O pensamento sabe, está muito bem consciente de que não é imortal.

O pensamento tem que ter segurança; está procurando por segurança em todo o seu movimento.

O pensamento é mecânico; sendo mecânico, pode se mover em direções diferentes e tudo o mais. É a inteligência mecânica? Coloquemos dessa forma.

O pensamento é um processo material, e qual é a relação entre ele e a inteligência? É a inteligência um produto do pensamento?

O pensamento, o intelecto, domina o mundo. E portanto a inteligência tem um lugar muito pequeno aqui. Quando uma coisa domina, a outra tem de ser subserviente.

Ou seria a inteligência a quietude do cérebro?

Pensamento, matéria, o mecânico, é energia. Inteligência também é energia. O pensamento está confuso, poluído, dividindo a si mesmo, fragmentando a si mesmo.

Portanto eu diria que o pensamento deve estar completamente quieto para o despertar da inteligência. Não pode haver um movimento de pensamento e ocorrer o despertar da inteligência.

Se o cérebro não estiver harmonioso, a inteligência pode funcionar?

Veja, os Hindus têm a teoria de que a inteligência, ou Brahman, existe eternamente e que é coberta pela ilusão, pela matéria, pela estupidez, por todos os tipos de coisas errôneas criadas pelo pensamento. Eu não sei se você iria tão longe assim.

o pensamento não pode ver a si mesmo morrer.

o que é a fonte? Pode o pensamento encontrá-la? E ainda assim o pensamento nasceu dessa fonte; e a inteligência também. São como dois fluxos se movendo em direções diferentes.

todo o mundo ocidental é baseado na medida; e o mundo oriental tentou ir além dela. Mas eles utilizaram o pensamento para isso.

Ó, isso está muito claro. Prazer, conforto, segurança física, primeiro de tudo segurança física: segurança no relacionamento segurança na ação, segurança...